quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

O “menino selvagem” de Aveyron

A 9 de Janeiro de 1800, uma criatura estranha surgiu dos bosques perto da aldeia de Saint-Serin, no sul de França. Apesar do seu andar ereto, parecia mais um animal do que um ser humano, embora tenha sido de pronto identificado como um rapaz de onze ou doze anos. Expressava-se por guinchos, emitindo gritos agudos. Aparentemente, o rapaz não sabia o que era higiene pessoal e aliviava-se quando e onde era sua vontade. Foi entregue às auto­ridades locais e transportado para um orfanato das redondezas. No início, tentava fugir cons­tantemente, sendo capturado com alguma dificuldade. Recusava-se a usar roupas, que rasgava mal o obrigavam a vestir. Nunca ninguém apareceu a reclamar a sua paternidade.
A criança foi sujeita a um completo exame médico, que concluiu não existirem defi­ciências de maior. Quando lhe foi mostrado a sua imagem reflectida num espelho, apesar de visualizar uma imagem, não se reconheceu nela. Certa vez, tentou agarrar uma batata que viu reflectida no espelho (quando na realidade a batata estava a ser segura por trás da sua cabeça). Depois de várias tentativas, sem que tivesse virado a cabeça, apanhou a batata alcançando-a por trás do ombro. Um padre, que observou o rapaz diariamente, descreveu o incidente da batata do seguinte modo:

Todos estes pequenos detalhes, e muitos outros que poderíamos acrescentar, provam que esta criança não é totalmente desprovida de inteligência, reflexão e poder de raciocínio. Porém. somos obrigados a admitir que, em todos os aspectos que não dizem respeito às suas necessidades naturais ou de satisfação do seu apetite, apenas se observa nele um comportamento animal. Se tem sensações, estas não originam nenhuma ideia. Ele nem sequer as consegue relacionar. Poderia dizer-se que não há qualquer relação entre a sua alma ou mente e o seu corpo (Shattuk. 1980. p. 69: ver também Lane, 1976).

Mais tarde o rapaz seria levado para Paris e foram feitas tentativas sistemáticas de o transformar “de animal em humano”. O esforço só em parte foi um sucesso. Ensinaram-lhe a usar a casa-de-banho, passou a aceitar usar roupas e aprendeu a vestir-se. Continuava, contudo, com um grande desinteresse por brinquedos e jogos, e nunca foi capaz de dominar mais do que algumas poucas palavras. Pelo que podemos saber, com base na descrição deta­lhada do seu comportamento e reacções, isto não acontecia por ele ser mentalmente desfavo­recido. Parecia incapaz ou sem vontade de dominar o discurso humano. Poucos mais progressos fez e acabou por morrer em 1828, com cerca de quarenta anos de idade.
Naturalmente, temos de ser cuidadosos na interpretação de casos deste género. É possí­vel que se tenha dado o caso de se tratar de uma deficiência mental não diagnosticada. Por outro lado, é possível que as experiências a que esta criança foi sujeita lhe tenham infligido danos psicológicos impeditivos de dominar práticas que a maioria das crianças adquire em tenra idade. Há, no entanto, semelhanças suficientes entre este caso histórico e outros que foram registados para que possamos sugerir o quão limitadas seriam as nossas faculdades na ausência de um longo período de socialização primária.

Anthony Giddens, “Sociologia”, Fundação Calouste Gulbenkian

A Sociologia é uma ciência que estuda a sociedade, ou seja, estuda o comportamento humano em função do meio e os processos que interligam os indivíduos em associações, grupos e instituições. Enquanto o indivíduo na sua singularidade é estudado pela Psicologia, a Sociologia tem uma base teórico-metodológica, que serve para estudar os fenômenos sociais, tentando explicá-los, analisando os homens em suas relações de interdependência. Compreender as diferentes sociedades e culturas é um dos objetivos da Sociologia.(Demeterco, Solange Menezes da Silva, Sociologia da Educação, Curitiba: IESDE: Brasil S.A., 2ªed.,p. 6, 2006).


Os primeiros sociólogos


AUGUSTO COMTE(1798-1857) é tradicionalmente considerado o pai da sociologia. Foi ele quem pela primeira vez usou essa palavra, em 1839, em seu curso de filosofia positiva. Mas foi com Émile Durkheim (1858-1917) que a Sociologia passou a ser considerada uma ciência.
Durkheim formulou os primeiros conceitos da Sociologia e demonstrou que os fatos sociais têm características próprias, devendo por isso ser estudados por meio de métodos diferentes dos empregados pelas outras ciências.
Para Durkheim, a Sociologia é o estudo dos fatos sociais, das relações sociais e as formas de associação, envolvendo o estudo dos grupos. De acordo com ele os fatos sociais são o modo de pensar, sentir e agir de um grupo social. Embora eles sejam exteriores às pessoas, são introjetados pelo indivíduo e exercem sobre ele um poder coercitivo.
Os fatos sociais têm as seguintes características:
GENERALIDADE – o fato social é comum a todos os membros de um grupo ou à sua grande maioria;
EXTERIORIDADE – o fato social é externo ao indivíduo, existe independentemente de sua vontade;
COERCITIVIDADE – os indivíduos se sentem pressionados a seguir o comportamento estabelecido.


PARA REFLETIR E RESPONDER:

01. De acordo com o texto O “Menino selvagem” de Aveyron que conclusão você tirou da importância da socialização?
02. De que trata a Sociologia? E qual é o seu objeto de estudo?
03. Defina um conceito para Sociologia.
04. Os fatos sociais são superiores e exteriores à consciência individual. Explique essa afirmação e cite exemplos, se possível tirados de sua vida pessoal.
05. O que você acha que dificulta as relações sociais? Justifique.
06. Diante da sociedade em que somos inseridos que fatos contribuem para as relações interpessoais estarem tão difíceis? Justifique.

Nenhum comentário: