quinta-feira, 16 de setembro de 2010

                          Centenário de Nascimento 
           Adoniran Barbosa nasceu em 06 de agosto de 1910, em Valinhos, SP. foi um colecionador nato de apelidos. Seu verdadeiro nome era João Rubinato - mas cada situação por ele vivida o transformava num novo personagem numa nova história.
Ele nos conta a vida de um típico paulistano, filho de imigrantes italianos, a sobrevivência do paulistano comum numa metrópole que corre, range e solta fumaça por suas ventas. Através de suas músicas, canta passagens dessa vida sofrida, miserável, juntando o paradoxo bom humor / realidade - para quê lamúrias?
Tirou de seu dia a dia a idéia e os personagens de suas músicas. Iracema nasceu de uma notícia de jornal - quando uma mulher havia sido atropelada na Avenida São João.
Adoniran nasceu e morreu pobre - todo o dinheiro que ganhou gastou ajudando ou comemorando sucessos com os amigos - seu combustível era a realidade - porque então querer viver fora dela? Talvez soubesse que o valor maior de suas canções eram interpretações como a de Elis ou Clara Nunes.
Foi um grande colecionador de amigos, com seu jeito simples de fala rouca, contador nato de histórias, conquistava o pessoal do bairro, dos freqüentadores dos botecos onde se sentava para compor o que os cariocas reverenciaram como o único verdadeiro samba de São Paulo. Mais do que sambista, Adoniran foi o cantor da integridade.                                                                       Susana Gigo Ayres

 Músicas de Adoniran Barbosa que fizeram sucesso:

IRACEMA
Eu nunca mais eu te vi
Iracema
Meu grande amor foi embora
Chorei, eu chorei
de dor porque
Iracema
Meu grande amor foi você
Iracema
Eu sempre dizia
"Cuidado ao travessar
essas ruas"
Eu falava
Mas você não me escutava, não
Iracema
Você travessou contramão
E hoje ela vive lá no céu
E ela vive
Bem juntinho de Nosso Senhor
De lembranças
Guardo somente suas meias
E seus sapatos
Iracema eu perdi o seu retrato

(Iracema, fartavam 20 dias
Pra o nosso casamento
Que nóis ia se casa
Você atravessô a São João
Vem um carro te pega
E te pincha no chão
Você foi pra assistência,
Iracema
O chofer não teve curpa,
Iracema
Paciência, Iracema, paciência!)
E hoje ela vive lá no céu (...)
 
TIRO AO ÁLVARO
(Adoniran Barbosa e Oswaldo Moles)
De tanto levar frechada do teu olhar
Meu peito até parece, sabe o que?
Táubua de tiro ao álvaro, não tem mais onde furar
Teu olhar mata mais do que bala de carabina
Que veneno estriquinina
Que peixeira de baiano
Teu olhar mata mais
Que atropelamento de automóver
Mata mais que bala de revórver


SAUDOSA MALOCA
Se o senhor não tá lembrado, dá licença de contar
Ali onde agora está este adifício arto
Era uma casa véia, um palacete assobradado
Foi aqui seu moço, que eu, Mato Grosso e o Joca
Construimo nossa maloca
Mais um dia, nóis nem pode se alembrá
Veio os home com as ferramenta e o dono mandô derrubá
Peguemos todas nossas coisas e fumos pro meio da rua
Apreciá a demolição
Que tristeza que nóis sentia, cada táuba que caía
Doía no coração
Matogrosso quis gritar, mas por cima eu falei
Os home tá co'a razão, nóis arranja outro lugar
Só se conformemo quando o Joca falou
Deus dá o frio conforme o cobertor
E hoje nóis pega as paia nas grama do jardim
E pra esquecer nóis cantemos assim:
Saudosa maloca, maloca querida
Dim dim donde nóis passemo os dias feliz da nossa vida


TREM DAS ONZE
Não posso ficar nem mais um minuto com você
 Sinto muito amor, mas não pode ser
Moro em Jaçanã
Se eu perder esse trem
Que sai agora às onze horas
Só amanhã de manhã
E além disso mulher, tem outra coisa
Minha mãe não dorme enquanto eu não chegar
Sou filho único, tenho minha casa pra olhar
Não posso ficar, não posso ficar...

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