sábado, 25 de abril de 2009

ANÁLISE CRÍTICA DOS FILMES:
Cidade de Deus e Central do Brasil
(Por Cláudio Leyria)
Muito já se falou de dois ícones do cinema brasileiro, "Cidade de Deus" e "Central do Brasil", mas sempre há um aspecto novo a ser explorado que contribui para uma análise crítica dos filmes. Em "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles, a realidade é apresentada de maneira cruel. O tráfico de drogas é mostrado como uma ameaça permanente. Não há no filme nenhuma menção de que o poder do tráfico (e a violência inerente à atividade) pode ser reduzido, ou pelo menos controlado. Esta mesma situação caótica, acrescida ainda de corrupção policial, resulta no surgimento de anti-heróis. Ou seja, não há personagens 100% íntegros, pois eles destoariam do universo proposto pelo filme (e pelo livro de Paulo Lins). E temos então Tião Galinha utilizando seus méritos de atirador treinado em uma academia para defender seus interesses contra a gangue de Zé Pequeno. Aliás, sem querer manter uma pose conservadorista, um palavrão integra a frase mais famosa do filme -- nada mais adequado para um bandido (no caso o "herói" Zé Pequeno). Ainda que a justiça prevaleça no final (quesito imprescindível para um filme ser bem sucedido, pois os valores universais clamam por justiça), o espectador já torceu pelos personagens observados por Buscapé (o representante do público no filme). A grande sacada da produção foi se valer do fato do Brasil não ter muitos heróis e ter uma galeria famosa de bandidos que a mídia tratou de trabalhar suas imagens. Neste time estão incluídos o próprio Tião Galinha, Lúcio Flávio, Pixote, Fernando da gata, Escadinha e, para citar um ainda em ação, Fernandinho Beira-Mar (fácil é prever o traficante se tornando um personagem de cinema no futuro).
OTIMISMO - Em "Central do Brasil", de Walter salles Jr., o tradicional estilo panfletário do cinema brasileiro continua, mas com uma grande dosagem de otimismo. A miséria e problemas sociais do país estão impressos na tela, porém, os personagens trabalham de modo a ter noção de que a vida pode ser melhor.
Esta convicção apresentada por Salles Jr. contribui para que a justiça muito apreciada pelo público esteja presente. O cineasta é mais um profissional que sabe que não se trata de insistir em finais felizes somente por questões comerciais, mas sim porque desde os primórdios da civilização a humanidade clama por isso. A jornada de Dora e Josué até o Nordeste, em busca do pai que o menino nunca conheceu mostra que em uma agravada situação de miséria, analfabetismo, falta de melhores oportunidades há a possibilidade de se virar o jogo. O filme poderia sugerir por exemplo, se antes de morrer a mãe de Josué resolvesse voltar para casa, ia encontrar uma família que estava prosperando em seus negócios e talvez não precisasse mergulhar no caos urbano de uma metrópole implacável. É na associação involuntária feita com Dora que o pequeno Josué descobre seu lugar ao sol e apto a repensar seu futuro, com esperança. Este prêmio de Josué é também o prêmio de Dora, que teve a chance de se redimir de intenções de lucro pessoal.

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