quarta-feira, 27 de agosto de 2008

DOCUMENTÁRIO DA VIDA DE
PATATIVA DO ASSARÉ.


A TRISTE PARTIDA DO POETA


DE ASSARÉ.


O poeta Antonio Gonçalves da Silva,o PATATIVA DO ASSARÉ, foi o autor de versos que se transformaram em clássicos da música popular,ele morreu no final da tarde de uma segunda-feira,08/07/2002, aos 93 anos,vítima de pneumonia sepultado no cemitério São João Batista, em Assaré,interior cearense.Cordelista



MEMÓRIA: MORRE PATATIVA DO ASSARÉ,O GÊNIO DA POESIA NORDESTINA

Klécius Henrique [Da Equipe do Correio Com Agências].



O Nordeste perdeu um de seus mestres.O poeta Antônio Gonçalves da Silva,o popular PATATIVA DO ASSARÉ,93 anos,morreu em sua .casa,na cidade de Assaré,sertão do Cariri(Ceará).Com pneumonia,ele respirava com ajuda de aparelhos. Nos últimos meses,foi internado várias vezes por complicações diversas.No sábado, quando a saúde do poeta piorou,seus filhos foram para a casa dele.Os médicos não quiseram interná-lo no hospital por considerarem desnecessário.
Menino que freqüentou a escola por apenas seis meses,Patativa do Assaré se tornou um dos maiores poetas populares do Brasil.Sua obra sempre esteve ligada às raízes nordestinas,à vida do homem do campoe,sobretudo,à religiosidade da região do Cariri,extremo Sul do Ceará.
Patativa era o segundo filho do casal de agricultores Pedro Gonçalves da Silva e Maria Pereira da Silva.Como os pais,nunca deixou a enxada de lado.Desde que comecei a trabalhar na agricultura, nunca passei um ano sem botar a minha roçadinha,só não plantei na roça,no ano que fui ao Pará,conta em texto autobiográfico,lembrando da época em que foi tentar a vida como cantador em Belém.
O poeta nasceu em 05 de março de l909 na Serra de Santana,sítio a três léguas(l8 quilômetros) da cidade de Assaré.No período da dentição,o menino Antônio perdeu a visão direita,atingida por doença conhecida no interior como “dor d’olhos”.Aos 08 anos,ficou órfão do pai,perda que o marcou para o resto da vida.
“Ao lado de meu irmão mais velho tive que trabalhar muito para sustentar os mais novos,pois ficamos em completa pobreza”,escreveu Patativa.Até os 12 anos,o contato de Antonio Silva com a poesia era leitura de cordéis realizada pelos familiares, e a audição dos repentistas do Cariri.
“De 13 a 14 anos, comecei a fazer versinhos que serviam de graça: eram brincadeiras de noites de São João, testamento do Juda, ataque aos preguiçosos que deixavam o mato estragar os plantios da roça”, relatou o poeta.
A partir daí,Patativa não parou mais.Até no hospital,doente,fazia poesia.Numa das internações recentes no Crato,declamou o amor pelo Ceará na cama do hospital:”Sou Cearense e me orgulho/Morro pelo Ceará/E dentro de mim essa força/Jamais se acabará.”Era sinal do seu eterno bom humor.
Patativa comprou uma viola de dez cordas aos l6 anos.O poeta, então,virou repentista.Ele só foi publicar o primeiro livro,Inspiração Nordestina,em l956,aos 47 anos.A obra foi financiada por um amigo,ressarcido pelo poeta depois da venda dos exemplares.Antonio Gonçalves da Silva deixou o Ceará aos 20 anos.A convite de um parente foi tentar a vida no Pará.Cinco meses depois estava de volta ao estado natal.Não agüentou a saudade do Cariri.À época,ele conheceu o escritor José Carvalho de Brito.
José Carvalho de Brito publicou textos do menino do Assaré no Correio do Ceará.Em um deles,o escritor comparou a poesia de Antonio Gonçalves da Silva ao canto da patativa,ave do semi-árido.O pseudônimo pegou.Dessa forma,o poeta do Assaré acabou inspirando várias gerações de artistas cearenses e de outras regiões.
Em l972,o cantor Fagner gravou Sina,cuja letra é de Patativa.O poeta também foi visto nas telas em dois filmes do cineasta Rosemberg Cariry.PATATIVA DO ASSARÉ – Um Poeta Camponês(1979) e Patativa do Assaré – Um poeta do povo(l975).Recentemente,o jovem diretor Ítalo Maia,de 14 anos,fez o desenho animado Patativa.”Ele é o velho mais punk que conheci, disse Ítalo, na apresentação do curta,no Cine Ceará.
“ O Brasil não tem um poeta nacional,como a Espanha teve Lorca (Federico García ) e o Chile teve Pablo Neruda,mas o Nordeste teve o seu poeta e ele se chamava PATATIVA DO ASSARÉ.Ele representou o nordestino em sua universalidade”,afirmou o cineasta Rosemberg Cariry.Em l995,o presidente Fernando Henrique Cardoso homenageou o poeta com a concessão da medalha José de Alencar.Patativa casou-se em 1936 com dona Belinha,com quem conviveu por 56 anos e teve nove filhos, sete ainda vivos.
ESTUDOS E BIOGRAFIA
Patativa só foi gravar um disco em 1979,por iniciativa do também cearense Fagner.Ao todo, foram três álbuns Antes, porém, sua arte tinha chegado,em livro,a um público do Sul que soube perceber a maravilha de sua obra.Foi com a publicação de CANTE LÁ QUE EU CANTO CÁ,editado pela Vozes,em 1978.No ano passado,a editora Hedra publicou um volume com cinco folhetos de Patativa,como título de coleção cordel.O livro foi preparado por um estudioso belga e aberto com um ensaio da francesa Sylvie Debs,da Universidade Robert Shuman,de Estrasburgo.Ainda no ano passado, a editora do CPC-Umes publicou a biografia O POETA DO POVO- VIDA DE OBRA DE PATATIVA DO ASSARÉ, de Assis Ângelo.
DEMOCRATA
A política também nunca ficou distante de Patativa. No regime militar,ele condenava os militares e chegou a ser perseguido.Em 1984,participou das Diretas Já . Em um de seus poemas,Inleição Direta 84,ele fala do período usando versdos como: “Bom camponês e operaro/A vida tá de amargá/ O nosso estado precaro/Não há quem possa aguentá/Neste espaço dos vinte ano/Que a gente entrou pelo cano/A confusão tá compreta/Mode a coisa miorá/Nós vamo bradá e gritá/Pela inleiçao direta
No Ceará, sempre apoiou o governo de Tasso Jereissati(PSDB),a quem chamava de “amigo”.Tasso,por diversas vezes,participou da festa de aniversário de Patativa, o maior evento social de Assaré todos os anos..
Neste ano,Patativa não participou da festa.Quase surdo e cego, ficou cego no final dos anos 90 e passou a andar com dificuldades por ter sofrido um acidente,ele não saía de casa e já não estava mais recebendo visitas.Nos últimos dias de vida,mal reconhecia amigos familiares.

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